A edição deste domingo do jornal português Público, mostra a teia dos negócios de Dirceu na nossa pátria mãe, aliás foi deles que herdamos virtudes e vícios.
O principal suspeito do caso do Mensalão, antigo braço-direito de Lula da Silva, foi uma das peças-chave de negócios como o da "transferência" da Portugal Telecom da Vivo para a Oi e continua a ser uma ponte entre empresas dos dois lados do Atlântico.
José Dirceu, o ex-ministro-chefe da Casa Civil de Lula da Silva, o principal suspeito do caso Mensalão, na sequência do qual se demitiu, em 2005, está ligado a um grupo de sociedades, de advocacia e de consultoria, que são usadas como uma ponte por grupos portugueses e internacionais, que querem investir no Brasil. José Dirceu, que é colaborador da Ongoing e parceiro do escritório nacional Lima, Serra, Fernandes & Associados, che?ado pelo grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL), esteve, por exemplo, no epicentro das negociações que deram à Telefónica o controlo da operadora brasileira Vivo, entre 2009 e 2010, e que teve como contrapartida a entrada da OI na Portugal Telecom. "O sucesso está associado aos conhecimentos, amizades e ao raio de poder e influência que José Dirceu ainda tem em todos os escalões do governo, fundos de pensão e empresas estatais. Mas os seus movimentos estão sempre cercados de mistério", concluiu a revista brasileira Veja, na edição de Agosto de 2011, a propósito de uma investigação realizada aos negócios que envolvem o antigo homem forte do gabinete de Lula.
Dirceu é classificado pela polícia brasileira como o cabecilha de uma rede sofisticada de corrupção, que será julgado este ano [ler texto ao lado]. O advogado e antigo presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) apresenta-se hoje como consultor de multinacionais, promovendo grandes negócios, alguns dos quais precisam de aprovações políticas para se concretizar. A partir de São Paulo, o epicentro económico do Brasil , José Dirceu opera através de duas sociedades: a JD Consultores e o escritório de advocacia Oliveira e Silva & Associados. Uma designação que parece nada ter a ver com o ex-deputado. Mas o nome completo deste é José Dirceu Oliveira e Silva. Em Brasília, a ponte é feita através da consultora a JD&S encabeçada por Júlio Silva, conhecido por Júlio César, casado com uma assessora do Palácio do Planalto, e que é o braço-direito de José Dirceu. E é este consultor que surge, por vezes, a concretizar as grandes operações associadas ao líder petista. O seu nome consta de negócios envolvendo grupos portugueses, como é o caso da Ongoing, e espanhóis, como a Isolux, que é representada por Júlio César.
Em Portugal, José Dirceu tem muitos amigos. Um deles é João Abrantes Serra, um dos sócios do gabinete Lima, Serra, Fernandes & Associados, liderado por Fernando Lima, o actual presidente da Galilei, ex-Sociedade Lusa de Negócios e dona do BPN. O advogado confirmou ao PÚBLICO que a LSF & Associados (Fernando Lima, João Abrantes Serra, João Vaz Fernandes) tem há vários anos uma parceria com o escritório Oliveira e Silva. No entanto, esta parceria não é publicitada na página na Internet do gabinete português. E nenhuma das três sociedades de José Dirceu, Oliveira e Silva, JD Consultores e JC&S, tem um site oficial. Fernando Lima explicou, porém, que o escritório tem presença própria em São Paulo, onde está "quase sempre" um dos sócios João Vaz Fernandes.
Os registos na Ordem dos Advogados do Brasil indicam que o domicílio profissional de Vaz Fernandes é na Rua Botucatu, a mesma morada da sociedade de José Dirceu. Por outro lado, o gabinete LMF & Associados está ainda associado ao JD&S, através de André Serra, filho de João Abrantes Serra, o que foi reconhecido por Fernando Lima. O PÚBLICO procurou, em vão, ao longo de duas semanas, falar com João Abrantes Serra, ex-gestor da Abrantina, e acabou por ser Fernando Lima a confirmar "a longa relação de amizade" do seu sócio com Dirceu.
O mesmo advogado deu como "provável" que tenha sido através de João Abrantes Serra que o presidente da Ongoing, Nuno Vasconcellos, conheceu o fundador do PT, que é colaborador e prestador de serviços do grupo português no Brasil. Lima recusou, todavia, revelar se a Ongoing é cliente da LSF, por "dever de sigilo" profissional. No Brasil a Ongoing recorre, entre outros, aos serviços jurídicos de Lilian Ribeiro, que tem gabinete com Dirceu. Terá sido, ainda, por via de João Serra que o exembaixador em Madrid e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Martins da Cruz, aparece associado à promoção de alguns negócios do outro lado do Atlântico, designadamente envolvendo grupos espanhóis.
"O José Dirceu tem muitos conhecimentos e ajuda a fazer pontes, sempre dentro dos procedimentos legais. Ele é um homem cordial e afável. Por que razão não devemos contratar os seus serviços?" É assim que um gestor com empresas no Brasil comentou ao PÚBLICO o recurso aos seus bons ofícios. Apesar das tentativas de contacto, José Dirceu não se mostrou disponível para falar com o PÚBLICO. A Ongoing também não respondeu às questões enviadas.
O dossier Vivo
A resolução do dossier Vivo, que envolveu a saída da PT da operadora brasileira e a entrada da OI na PT, por exemplo, teve como ponto nevrálgico o universo das sociedades ligadas a José Dirceu, e é um exemplo da importância das conexões entre gabinetes portugueses e brasileiros nos negócios entre os dois países. Entre 2007 e 2008 o PÚBLICO apurou, por exemplo, que a LSF & Associados esteve a prestar apoio à PT, no quadro do dossier Vivo. Nesse período o escritório recebeu uma avença da PT, que recusou comentar a informação. Fernando Lima confirmou-a e esclareceu que se destinou, apenas, "a apoiar a PT no Brasil".
O contrato foi interrompido em Abril de 2008, quando Zeinal Bava se tornou presidente da comissão executiva. Com a PT fora de cena, outros actores entraram em acção. A partir daí os registos revelam que o presidente da Ongoing, Nuno Vasconcellos, e os accionistas da OI mantiveram, entre si, contactos, que beneficiaram do apoio de José Dirceu. O Estado de São Paulo menciona, em Outubro de 2011, que, a partir de certa altura, o BESI substitui a Ongoing, pois foi mandatado pela PT para conversar com a OI. Por seu turno a Telefónica, que adquiriu 50% da Vivo à PT, em Julho de 2010, trabalhava com o gabinete Oliveira e Silva & Associados.
Nessa fase, Dirceu abriu à Telefónica as portas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), instituição pública federal que financia projectos, tendo havido várias reuniões entre as duas empresas. A 8 de Julho, 20 dias antes de a PT anunciar a saída Vivo e o acordo com a Oi, José Dirceu veio a Lisboa, onde teve contactos ao mais alto nível. Ao Diário de Notícias disse então: "Sempre defendi a fusão da Oi com a Brasil Telecom ou com uma empresa como a PT."
Um homem que se reinventou várias vezes
Do guerrilheiro que virou ministro, ao suspeito do Mensalão que virou consultor
Perfil
Rita Siza
Quando o escândalo do Mensalão rebentou na imprensa brasileira, em 2005, José Dirceu era o segundo homem mais importante em Brasília, a seguir ao Presidente Lula da Silva. O mega-esquema de corrupção e financiamento político ilegal engoliu o ministro da Casa Civil, que se viu forçado a demitir-se do cargo. Pouco tempo depois o seu mandato de deputado federal foi "cassado". A presidência do Partido dos Trabalhadores (PT), ao qual dedicara décadas da sua vida, escapou-lhe entre os dedos. Apontado como o "chefe da quadrilha" do Mensalão, aos 60 anos, José Dirceu de Oliveira e Silva, reinventou-se – algo que fez várias vezes ao longo da sua vida. De menino do campo a rapaz da cidade, de líder estudantil a prisioneiro da ditadura, de exilado político a aprendiz de guerrilheiro, de comerciante clandestino a fundador do PT, e daí a deputado estadual e federal, candidato a governador e ministro, as sucessivas encarnações de Dirceu parecem uma mistura de novela de espionagem, romance histórico e comentário político – com algum romantismo pelo meio. Hoje é consultor de empresas e empresário, o que alimenta a aura nebulosa de poder e influência em seu redor. Mas, como notou ao PÚBLICO um editor de um grande jornal brasileiro, perante a inexistência de um único caso concreto de influência de Dirceu na concretização de qualquer negócio, "tudo isso virou fumaça".
O tipo de consultoria que Dirceu faz exactamente não é fácil de precisar: várias fontes contactadas por este jornal transmitiram a ideia de que empresários e industriais têm interesse em contratá-lo por causa da sua vasta rede de contactos e da sua facilidade em movimentar-se nos corredores do poder. Mais do que um consultor, Dirceu parece ser um "lobyista". "Ninguém sabe o que ele faz, a não ser que conversa com empresários importantes, que querem tê-lo à mão para abrir alguma porta ou resolver qualquer problema que tenham com o Governo", descreveu um veterano jornalista político de São Paulo. Bastante mais "palpável" é a influência que Dirceu continua a exercer sobre o partido que ajudou a fundar – apesar de teoricamente estar afastado da actividade política. Dirceu participa activamente na vida partidária, e apesar de não ter nenhum cargo oficial, "continua a ser uma eminência parda" no PT, diz um repórter brasileiro. Há poucos meses, fez furor uma reportagem publicada na revista Veja sobre as entradas e saídas de vários dirigentes políticos e empresários brasileiros de um hotel de Brasília, onde alegadamente se reuniam "a despacho" com José Dirceu (que denunciou à polícia uma tentativa de invasão do seu quarto pelo jornalista da Veja e processou a revista).
Que puder tem esse corrupto não só no Brasil, e sim na Europa e os Governantes Brasileiros em vez de espulgar um calhorda desse, apoia por que e corrupto da mesma laia sim?
Nenhum comentário:
Postar um comentário