sexta-feira, 25 de maio de 2012

As damas do agronegócio


Conheça o NFA, um grupo de executivas que estão mudando o jeito de comandar suas fazendas. No jogo do poder, são elas que estão dando a última palavra


Por Vera Ondei

Foto: Kelsen Fernandes
Da esquerda para a direita: Ana Lúcia Iglesias, da Fazenda Rubayat, em Dourados (MS); Sílvia Morgulis tem seis fazendas em São Paulo; Rosalu Queiroz, das fazendas Jaguaretê, em Nantes (SP), e Eldorado do Sul (RS); Carmem Peres, tem fazendas em Mato Grosso; Beatriz Biagi Becker tem três fazendas em São Paulo e Mato Grosso do Sul; Eliane Massari tem fazendas no Maranhão e no Paraná; Ana Luiza Junqueira Viacava tem fazendas no Paraná, em São Paulo e Mato Grosso; Clélia Pacheco, da fazenda Santa Silvéria, em Piratininga (SP); Cristina Bertelli, da fazenda Natureza II, em Brotas (SP); Cláudia Platzeck, tem fazendas em Mato Grosso do Sul; Lídia Massi Serio, tem quatro fazendas em Mato Grosso do Sul e uma no Paraná; Tereza Cristina Vendramini, da fazenda Jacutinga TC, em Flórida Paulista (SP); Natália Massi Serio é filha de Lídia e secretária-executiva do NFA; Marize Porto Costa, da fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO)

Uma vez por mês, um grupo de 23 mulheres tem hora marcada para conversar. Elas se encontram no 16º andar do prédio da Sociedade Rural Brasileira (SBR), no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, mas não falam de filhos, grifes de roupas ou sapatos, muito menos sobre shopping centers ou o rumo da novela das oito. Donas de sobrenomes poderosos da pecuária, elas ocupam posições-chave no comando de fazendas em Estados como São Paulo, Paraná, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Maranhão e Rondônia e, por isso mesmo, preferem dedicar o tempo à troca de informações sobre a gestão das propriedades que administram. No grupo, a disciplina é uma virtude coletiva. Chegam sem atraso à vetusta sede da SBR, repleta de sofás forrados de couro e móveis centenários, pontualmente às 14 horas e tomam lugar em uma grande mesa de mogno. Algumas abrem seus notebooks e tablets, outras; os seus blocos de anotações, e se preparam para um encontro que pode durar até quatro horas.
Nessas reuniões, elas tratam de temas como infraestrutura de produção, demandas de mercado, nutrição animal, pastagens, operações na Bolsa de Mercadorias, linhas de crédito, ou qualquer outro assunto escolhido de comum acordo. Os assuntos podem ser abordados a partir da experiência de uma delas na gestão de sua fazenda, ou por algum convidado especialista no tema. Para fazer parte do Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA), nome de batismo desse grupo que nasceu no fim de 2010, é preciso ter o nome aprovado por unanimidade, além de a candidata passar por uma sabatina. Raramente a reunião avança além do tempo combinado. Poucos minutos após o término dos trabalhos, a sala começa a ficar vazia. “O que menos queremos é aparecer”, diz Sílvia Morgulis, presidente do NFA.
“Não está no nosso DNA a exposição e a festa, como se fôssemos celebridades.” No entanto, é praticamente impossível manter o anonimato pretendido por Sílvia. Hoje, o NFA, que vicejou num ambiente de negócio tipicamente masculino, começa a ser visto por outros pecuaristas como referência de organização e troca de experiências entre executivos da nova geração do agronegócio. 
Foto: Pedro Dias
Beatriz Corral Jacintho, tem fazendas em São Paulo e Mato Grosso do Sul
Ana Lúcia Quintiliano,tem fazendas no Paraná e em São Paulo
Janaína Flor de Delestem fazendas em Goiás e Mato Grosso

Segundo Ângela Antonioli Pêgas, economista que já passou por empresas como a Ambev e o banco Goldman Sachs, e que atualmente é diretora da Egon Zehnder International, consultoria de recrutamento de executivos com atuação em 38 países, o NFA faz parte de um amplo movimento nas posições de comando das companhias em todos os setores da economia.“As grandes empresas, mais do que nunca, estão em busca de mulheres para assumir posições diretamente na administração do negócio e também nos conselhos”, diz Ângela. Para ela, essas empresas querem a diversidade de ideias, um trunfo que gera resultados positivos na gestão do negócio. “As mulheres, sejam as que atuam em grandes companhias, sejam as que comandam fazendas, acabam desenvolvendo habilidades comuns.”
No caso do NFA, a habilidade comum é a capacidade de administrar, de gerir o patrimônio familiar e impor no dia a dia das fazendas, cada uma a seu modo, a voz de comando do negócio. “Essas mulheres são a terceira geração da agropecuária moderna que se inicia nos anos 1950, e que transformou o Brasil num dos maiores produtores mundiais de grãos e carne”, diz o agrônomo Francisco Vila, da consultoria Projeto Pecuária, de São Paulo. Vila é o único homem com livre acesso às reuniões do NFA. Na verdade, é uma espécie de mentor da entidade: há dois anos, partiu dele a ideia de formar um grupo de executivas do agronegócio. De acordo com ele, quase todas elas são continuadoras da atividade iniciada por seus avôs, os homens que abriram as fazendas no interior do País. “A segunda geração é a de seus pais, quase todos na faixa de 55 a 70 anos”, diz Vila. “Na terceira geração já não houve mais a obrigatoriedade de ser homem para assumir os negócios da família.” O sobrenome, porém, não foi suficiente para garantir a essa turma o acesso às posições de mando “Essa geração se preparou para tomar conta das fazendas”, diz Vila. Muitas são veterinárias, zootecnistas, administradoras, economistas, algumas até com mestrado e doutorado.

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