sábado, 21 de abril de 2012

Para Fernando Rodrigues colunista da Folha, tudo isso foi um desperdício, conforme as palavras dele mesmo:"Brasília é um erro histórico irreparável. Será viável talvez em 150 anos. É uma festa para os ricos. Mas a um custo enorme para o país, que nada lucra com esse delírio de JK."

COMO NASCE UMA CIDADE »
Que Brasília era aquela? Quando foi inaugurada, 52 anos atrás, a nova capital era ainda uma maquete incompleta da cidade desenhada por Lucio Costa. Não havia Asa Norte, nem Rodoviária, nem Teatro Nacional, nem Catedral. Duas rodovias ligavam o antigo ermo a Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Goiânia






os primeiros predinhos modernos da 107/108 sul, que mais tarde seria conhecida como a rua da igrejinha
 De19 de setembro de 1956, dia em que foi sancionada a lei que criou a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), a empresa que iria construir Brasília, até 21 de abril de 1960, foram 1.299 dias. Três anos e sete meses para abrir o cerrado virgem e, entre campinas, chapadas e pequizeiros, plantar formas angulares de concreto armado e largos veios de asfalto. E criar as condições para o surgimento de um lago a leste a partir das águas represadas de um rio de porte médio e de seus afluentes. 

Ao ser inaugurada, a nova capital se resumia a: uma esplanada com onze ministérios, um palácio para cada um dos Três Poderes, um palácio residencial, uma igreja, três hotéis, cerca de 2 mil apartamentos, pouco mais de 700 casas (na W3 Sul), uma escola pública, meia dúzia de escolas particulares e perto de cem construções destinadas a estabelecimentos comerciais. Ao todo (ver infografia), foram construídos até a inauguração da cidade 346.159 m². 






a cidade inaugurada espalhava-se como oásis pontuando o deserto

As obras haviam sido criadas e desenvolvidas por uma equipe de 101 arquitetos, chefiados por Oscar Niemeyer. A lista de funcionários do Departamento de Urbanismo e Arquitetura era um desfile de estrelas de primeira grandeza: Lucio Costa, Athos Bulcão, Adeildo Viegas de Lima, Augusto Guimarães Filho Glauco Campello, Samuel Rawet e Joaquim Cardozo. Dela fazia parte também Mário Fontenelle, o fotógrafo que registrou toda a construção da capital, desde o cruzamento dos dois eixos, em foto germinal do período. 

Duas rodovias já ligavam Brasília a Goiânia e Belo Horizonte e delas a São Paulo e Rio. A rodovia Belém-Brasília já estava cortada de ponta a ponta. Faltava pavimentação. Sessenta por cento da rede elétrica já furava o chão da nova capital, abastecendo a Asa Sul e o Eixo Monumental.

A Asa Norte era só um curto fio de terra vermelha. A Rodoviária já exibia as formas portentosas da plataforma superior, a Catedral estava em ferros, o Teatro Nacional e o Itamaraty ainda não existiam. Os serviços eram demasiadamente precários. Só havia 200 linhas de telefone. Os apartamentos ainda estavam sendo mobiliados para receber a primeira leva de funcionários públicos. Faltava água, o fornecimeto de luz sofria constantes interrupções e o único supermercado, o Unidade de Vizinhança, era insuficiente para atender à nova capital, que, aos primeiros dias, já somava 100 mil habitantes.






A barragem do paranoá já estava pronta quando brasília foi inaugurada

Não dava para tapar a realidade com a fantasia. Até Israel Pinheiro, o temido presidente da Novacap, admitia no discurso de posse como primeiro prefeito de Brasília: “Em 21 de abril, conforme estava determinado, o Brasil recebeu a sua nova capital já dotada das condições essenciais para a transferência dos Três Poderes da República”. 

O 21 de abril foi uma data oficial e simbólica da mudança da capital. Muito estava por ser feito, como o próprio Juscelino registrou na mesma ocasião; “A você, Israel Pinheiro, ao seu substituto, Moacyr Gomes e Souza, que vai agora empunhar o mesmo cetro para derrubar as últimas dificuldades e concluir a paisagem maravilhosa de Brasília, o meu abraço, certo de que os próximos nove meses, que muita gente imaginava fossem de repouso para nós, serão, ainda, outras duras e penosas marchas na realização do supremo ideal que nos empolgou, para a grandeza e a prosperidade do Brasil.” 

Conta-se que, às vésperas da inauguração da cidade, o canteiro central da Esplanada ainda era um mar de terra. Ao receber a ordem de Israel para gramar a extensa área até 21 de abril, um engenheiro resolveu plantar alpiste. Era o único jeito de atender às ordens do presidente da Novacap, que queria obedecer o que determinava o projeto de Lucio Costa na Esplanada: “Extenso gramado destinado a pedestres, a paradas e a desfiles.” 






elegantes luminárias desenhavam um colar de pérolas nas vias sinuosas da cidade

Com a inauguração da nova capital, a cidade dividiu-se em duas categorias de habitantes: os candangos que a construíram e tinham por ela fervoroso afeto; e os recém-chegados, para quem a nova capital era somente um meio de conseguir a casa própria, a dobradinha do salário, a melhoria de vida. Os primeiros aceitavam as dificuldades com alegria; os segundos reclamaram bastante. Muitos voltaram ao Rio de Janeiro. Quem ficou acabou se apaixonando por esse novo planeta urbano






os primeiros blocos das superquadras reinavam, brancos e puros, na asa sul




algumas tesourinhas rodopiavam na terra vermelha e na imensidão do vazio
346.159 m² 
de área construída até 21 de abril de 1960


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