Com a garantia de que os líderes do partido não vão cobrar o mandato por infidelidade partidária, senador goiano apresenta pedido de desfiliação e agora vai enfrentar, cada vez mais isolado, o processo no Conselho de Ética do Senado
Como num acordo tácito de cavalheiros, o senador Demóstenes Torres (GO) entregou ontem sua carta de desfiliação do DEM, depois de receber a sinalização de que seus agora ex-correligionários não vão trabalhar para cassar o mandato dele por infidelidade partidária. Isolado, resta agora ao parlamentar goiano encarar o último capítulo desencadeado pela Operação Monte Carlo: o processo de quebra de decoro no Conselho de Ética do Senado.
Demóstenes adotou o roteiro semelhante dos últimos dias. O senador passou o dia em casa, acuado e em silêncio. No fim da manhã, Demóstenes ligou para o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), informando sobre a decisão de entregar os pontos. O senador goiano designou um assessor para ir ao Congresso levar o documento de desligamento da legenda. A resposta de Agripino foi imediata: "Não há evidências de perda da fidelidade partidária, razão usada para pedir o mandato, mas o assunto será estudado pelo Conselho de Ética", esclareceu Agripino.
Líder do DEM na Câmara, o deputado ACM Neto (BA) aproveitou para capitalizar o fato de o partido ter aberto o processo de expulsão de Demóstenes: "O DEM mostrou que se diferencia de todos os partidos do Brasil. Não tem problema em cortar na própria carne. Caso o senador não tivesse tomado iniciativa de se desfiliar, certamente seria expulso da nossa legenda", afirmou em frente ao gabinete da liderança no Senado. No documento enviado ao partido, Demóstenes afirma: "Embora discordando frontalmente da afirmação de que eu tenha me desviado reiteradamente do programa partidário, mas diante do pré-julgamento que o partido fez, comunico minha desfiliação do Democratas".
Agripino, sobre o DEM requerer o mandato: "Não há evidências de perda da fidelidade partidária"
Anteontem, enquanto a cúpula do DEM se reunia para sacramentar a abertura do processo de expulsão, Demóstenes procurava o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), em busca de apoio. Sem sucesso. Parlamentares que já passaram por processos públicos de desgaste alavancados por denúncias de corrupção avaliam que Demóstenes não obteve a solidariedade ou apoio de colegas por sempre ter feito questão de cobrar a investigação dos casos.
Apesar da disposição da legenda em não cobrar o cargo do senador, Demóstenes enfrentará um processo de quebra de decoro no Conselho de Ética do Senado. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) afirmou que a desfiliação não surtirá qualquer efeito. Para ele, não resta alternativa a Demóstenes. "Seria melhor ter renunciado, em vez de pedir a desfiliação. Vai enfrentar mais um mês de sangria desatada no Conselho de Ética", avalia Simon.
Com a desfiliação, o destino político do senador caberá ao Conselho de Ética do Senado, que deverá abrir processo de cassação contra o ex-democrata. A sorte de Demóstenes passará pelas mãos do líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AL), que tem a prerrogativa de definir a indicação do presidente do Conselho de Ética e poderá influir na escolha do relator que conduzirá o processo contra o senador, agora sem o apoio de uma legenda.
Pressão
É grande a pressão por uma investigação da Casa contra o senador. "Esse caso passa a ser um peso sobre o Senado", observa o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP), autor do requerimento para investigação no Conselho de Ética. "Não se trata mais de uma denúncia sobre uma cozinha presenteada pelo bicheiro, mas dos indícios de envolvimento de um senador da República com o crime organizado", diz Rodrigues.
É grande a pressão por uma investigação da Casa contra o senador. "Esse caso passa a ser um peso sobre o Senado", observa o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP), autor do requerimento para investigação no Conselho de Ética. "Não se trata mais de uma denúncia sobre uma cozinha presenteada pelo bicheiro, mas dos indícios de envolvimento de um senador da República com o crime organizado", diz Rodrigues.
O conselho deve se reunir no próximo dia 10 para eleger seu presidente, votar a abertura do inquérito contra Demóstenes e definir o relator do processo. Na Câmara, também ganhou corpo a demanda pela instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as relações entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e deputados e senadores, que teve seu requerimento apresentado pelo deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP).
O deputado ACM Neto defendeu em plenário a abertura da CPI, cobrando a apuração de denúncias que envolvem deputados de outros partidos, incluindo da base aliada. "Queremos ver qual vai ser a postura dos outros partidos com os seus quadros, que estão envolvidos em denúncias tão graves quanto aquelas que apareceram contra o senador Demóstenes Torres", afirmou o líder do DEM na Câmara. O presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), afirmou que deve decidir sobre a abertura da CPI depois que receber do Ministério Público informações sobre a investigação envolvendo Cachoeira.
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