domingo, 4 de dezembro de 2011

Após série de denúncias, Lupi pede demissão do Ministério do Trabalho

Enredado em uma teia de denúncias, Carlos Lupi, titular do Trabalho, pediu neste domingo demissão do cargo. Ele perdeu o apoio do PDT, entrou em rota de colisão com o PT que está de olho na vaga e não conseguiu explicar à Comissão de Ética da Presidência os casos de cobrança de propina na pasta. Na sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff, em viagem à Venezuela, avisou que decidiria o caso 'na segunda'. Para se antecipar ao gesto presidencial, Lupi retornou na tarde deste domingo, 4, a Brasília e apresentou sua carta de demissão a presidente, em encontro no Alvorada. 'Faço isto para que o ódio das forças mais reacionárias e conservadoras deste país contra o trabalhismo não contagie outros setores do Governo. Decidi pedir demissão do cargo que ocupo em caráter irrevogável', disse em nota.
O passivo de escândalos selou o destino de Lupi. Depois de desafiar a Comissão de Ética, que na quarta-feira recomendou a dispensa, ganhar tempo e dizer que faria uma 'análise objetiva' sobre o caso, Dilma chegou à conclusão de que não será possível segurar o auxiliar até a reforma ministerial, prevista para ocorrer entre o fim de janeiro e o começo de fevereiro de 2012.
Lupi é o sexto ministro que cai sob acusação de corrupção. Até agora, apenas Nelson Jobim (Defesa) não integrou a lista da 'faxina'. Foi dispensado por ter dado declarações consideradas 'inconvenientes' sobre o governo.
Dilma não quer que o PDT indique um novo ministro agora, pois pretende fazer um rodízio na partilha dos cargos e tirar o Trabalho do controle pedetista, na reforma da equipe.
Diante do impasse, a tendência é que o atual secretário executivo, Paulo Roberto dos Santos Pinto, assuma o comando do ministério, interinamente, até o início do ano que vem. Ele é filiado ao PDT, mas não tem aval do partido e muito menos de Lupi.
'Defendo que o PDT não tenha nenhum cargo no governo Dilma', afirmou neste domingo, 4, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). 'Nós vamos continuar no governo, mesmo não sendo nesse ministério', resumiu o deputado André Figueiredo (CE), presidente interino do PDT.
Lupi conversou neste domingo com amigos, por telefone, e confidenciou da necessidade de desocupar a cadeira, porque sua família não estaria aguentando a pressão. 'A cúpula do governo mandou o Lupi resistir e pôs o PT para bater nele. Foi assim com o PC do B também', insistiu o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, numa referência à crise que derrubou o ministro do Esporte, Orlando Silva.
O Ministério do Trabalho foi um feudo petista no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por lá passaram Jaques Wagner (hoje governador da Bahia), Ricardo Berzoini (atualmente deputado federal) e Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo. Agora, petistas agem nos bastidores para retomar o domínio da pasta.
Sem ceder às pressões até agora, Dilma analisa a possibilidade de resgatar um desenho antigo da Esplanada e fundir Trabalho com Previdência. Nesse cenário, o PDT poderia ficar o Ministério da Agricultura, hoje comandado pelo PMDB. O nome mais cotado para o posto, nesse caso, seria o do ex-senador Osmar Dias (PDT-PR), que também não tem chancela oficial do partido.
O presidente do PT, Rui Falcão, nega que o partido quisesse desbancar Lupi do Trabalho. 'A minha preocupação não é se ele continua ou sai, mas, sim, com a chamada política de porteira fechada, de ocupar determinados postos com pessoas que só representam uma central sindical', disse Falcão. 'Isso é aparelhamento e deveria acabar.' A briga entre a CUT, braço sindical do PT, e a Força Sindical, ligada ao PDT, é um importante ingrediente da crise que se abateu sobre o Trabalho. Na guerra pelo poder, integrantes da Força dizem que Dilma desidratou o ministério dirigido por Lupi, levando as principais negociações para a Secretaria-Geral da Presidência.
Com a saída de Lupi, o PDT espera reverter a pecha de corrupção do partido. 'Temos que lutar para tirar essa imagem de que o partido teve envolvimento em um esquema de arrecadação para pagar campanhas eleitorais', disse o secretário-geral do PDT, Manoel Dias.

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